terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Maior do que cabe no peito


No início era uma sala imponente na amplidão de seu pé direito, vazia e solene como uma igreja. Então surgiu um ponto na parede e terminou a sentença. Enquanto a sala refletia sobre o provérbio do ângulo e do volume, o ponto ficou quieto, invisível. E quieto sentia. E sensível pensava, buscando a luz, pois o reflexo ilude a solidão. O ponto cresceu, inchou espelhando-se selene na sala, deitando sobre todos sua órbita cinéria, cuja cegueira ciclópica refulgia em fases as marés ocultas.

Olhava para aquele guarda, um sorriso lunático talvez oculto atrás dos bigodes e pensava no inverno de sua metáfora, vigiando a inconstância infiltrada na casa da razão. O modelo minucioso do único esporo do ignoto fungo argênteo sobre nossas cabeças. A derradeira abstração antes do caos.



E quando seu turno acabava e ele ia pra casa, em um suspiro ele escutava as marés no peito e lembrava da certeza de que bastava um dia.

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