segunda-feira, 23 de junho de 2008

Amor sem tostão

Quero um amor sem tostão,
Um amor sem conquista.
Amor só de coração
E que ela seja paulista.

Dizes que penso de inverso,
Falo o absurdo incrível.
Mas me diz o universo
Com certeza é possível.

Amor sem carro, sem dinheiro,
Sem promessas de pensão.
Amor sem apoio financeiro
E que nunca abra a mão.

Um amor sem cartão
Crédito ou avalista.
Sem compensação
E no Serasa não exista.

Não lhe darei dinheiro,
Transporte ou abrigo.
Mas serei teu por inteiro
E te quero sempre comigo

Não terei dívidas, ativos,
Papéis em ascensão.
Só sentimentos cativos
Do teu coração.

Faltei aula de economia
E de estatística.
Investi na que sorria,
Desprezei a logística

Um amor sem tostão
E que ela seja paulista.
Apenas puro coração
Em plena Paulista.

Vadiar na avenida
Pedir por caridade.
Fundos para a vida
De um casal da cidade.


Esmolar nosso dinheiro
Em frente á FIESP.
Ali nosso afeto inteiro
Aos investidores se despe.

O mundo pode até rir
Da nossa falta de capital.
O teu peito partir,
Mas sigas sentimental.

Sentar no meio fio,
Secar-lhe o rosto
Com a toalha suada.
Choras um rio,
Choras com gosto,
Pois sabes que és amada.

Posso lhe dar amor
Carinho atenção,
Até um filho lhe dar.
Diante do teu estupor
Fazer uma canção,
O impossível provar.

Mas não posso, não quero,
Ter que por esse amor trabalhar.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Segue o ritmo

Fora tentativas de musicar pra ser feliz, as quais levantam as sobrancelhas de meus amigos músicos ao mesmo tempo em que lhes entorta metade da cara, vamos insistindo. O tempo segue frio, os prazos vão chegando ao fim, a comida sobe de preço, tomar cerveja gelada em bar aberto se torna surreal. Velhos inimigos se reúnem em volta dos mesmos rancores no inverno e as novas e inconstantes pessoas em minha vida continuam surgindo e sumindo, na mais tranqüila rotina fantasmal. Assentamento de tijolos, jejuns periódicos, tapetes velhos e a longevidade dos botijões de gás vêm á baila no papo pós-almoço, emoldurando o feijão, arroz com couve e macarrão com abóbora, batata e carne moída. O vizinho tira a sesta e acorda com jazz, enquanto o sol vai oblíquo no meio da tarde. Uma metrópole dos anos trinta desliza devagar do outro lado da rua, subindo o rio num barco a vapor. Ruas surgem entre fachadas e fundos, insinuando o trânsito interior, enquanto os olhos tentam seguir um trabalhador subindo a ladeira. Quem me vê, cumprimenta e segue a rotina. A lama da rua não secou e sua frieza opaca e poças claras me remetem à argila e fornos.

Não seriam todas as ceramistas complexas dobraduras vivas de origami, através do barro dialogando com a própria fragilidade? O papel deve admirar aquilo que pode atravessar o fogo e nascer de novo, novamente em belo e útil branco.

Esfriam as sombras de Junho e a dama de terracota admira o fogo, cercada de azul chumbo, sorrindo danças mais leves, despreocupada como uma bandeirola de festa. Um segundo andar desabrocha como uma oração de alvenaria no fim de tarde, levando consigo o hálito de promessas sonolentas. Só o cálcio sobreviverá.

Faltou á aula

Nunca vi, moça tão prática.
Quando o assunto é amor.
Criou até, nova gramática,
De uma língua sem dor.

Pouco vocabulário
Para falar, de emoção.
Sim, pois é precário,
Neste mundo, ter coração.

Nananina nã, na ni na ni não,
Não gostei de te ver aqui.
Sua visita, é uma opressão
Ao meu senso de piri pi qui.

Tipô puxa, afe, le chatô.
Eu falei, quero só curtir.
Se estive lá, quando lá não tô,
Era só pra não precisar mentir.

Nananina nã, na ni na ni não,
Já te disse não venha aqui.
Sua visita é uma opressão.
Ao meu senso de piri pi qui.

Tadadijadeu, podeirsevá,
Eu já provei, então já passou.
O consumido, usado está.
Não importa se o amor sobrou.


Apesar disso a sua voz,
Qual sólida luz.
Dissipa a ilusão atroz,
Quando a nota conduz.

Quisera eu só amar
Mãe, pai, irmão, irmã.
Tive logo que gostar
De uma filha de Iansã...