Achei seu livro. Caído no vão de uma escada de uma casa condenada, recusado pelo mofo e pelas traças. Achei seu livro. No bolso de um casaco na seção de achados e perdido do metrô, com ingressos usados do último filme assistido. Achei seu livro. Em uma caixa de papelão por um real, em um sebo ambulante. Em um bote no fundo de uma cisterna, dentro de um embrulho impermeável. Na gaveta de uma mesa esquecida pelo antigo morador. Achei seu livro. E lá dentro, cuidadosamente desdobrada e plana a embalagem de um incenso estava de marcador. Bem no começo. Achei seu livro e ele não era seu, era da autora. Isto é óbvio. Mas ele já era seu estava impregnado em você como um novo aroma e era visível no seu olhar, na sua face. Você sinestesia da sinestesia anterior. Achei o livro, mas o sonho era tarde. Você acordou cedo, entrou em outra realidade. Uma vida febril e muito nova, não cabe nas frases, nem será eterna, porque isso não tem graça. Penso em porque gostamos de cidades invisíveis, de viver nelas e sonhar com planícies ancestrais. Penso que cheguei tarde demais. Mas se pensar assim fica a autora, em outro paralelo aonde nunca alcancei. Meu par perfeito ali no lado de fora. Mas só agora. Encontrada antes não serviria. Mas ficamos bem, os três, cada um na sua realidade.
E o livro é bom, muito bom na verdade.
quinta-feira, 20 de março de 2008
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