Fora tentativas de musicar pra ser feliz, as quais levantam as sobrancelhas de meus amigos músicos ao mesmo tempo em que lhes entorta metade da cara, vamos insistindo. O tempo segue frio, os prazos vão chegando ao fim, a comida sobe de preço, tomar cerveja gelada em bar aberto se torna surreal. Velhos inimigos se reúnem em volta dos mesmos rancores no inverno e as novas e inconstantes pessoas em minha vida continuam surgindo e sumindo, na mais tranqüila rotina fantasmal. Assentamento de tijolos, jejuns periódicos, tapetes velhos e a longevidade dos botijões de gás vêm á baila no papo pós-almoço, emoldurando o feijão, arroz com couve e macarrão com abóbora, batata e carne moída. O vizinho tira a sesta e acorda com jazz, enquanto o sol vai oblíquo no meio da tarde. Uma metrópole dos anos trinta desliza devagar do outro lado da rua, subindo o rio num barco a vapor. Ruas surgem entre fachadas e fundos, insinuando o trânsito interior, enquanto os olhos tentam seguir um trabalhador subindo a ladeira. Quem me vê, cumprimenta e segue a rotina. A lama da rua não secou e sua frieza opaca e poças claras me remetem à argila e fornos.
Não seriam todas as ceramistas complexas dobraduras vivas de origami, através do barro dialogando com a própria fragilidade? O papel deve admirar aquilo que pode atravessar o fogo e nascer de novo, novamente em belo e útil branco.
Esfriam as sombras de Junho e a dama de terracota admira o fogo, cercada de azul chumbo, sorrindo danças mais leves, despreocupada como uma bandeirola de festa. Um segundo andar desabrocha como uma oração de alvenaria no fim de tarde, levando consigo o hálito de promessas sonolentas. Só o cálcio sobreviverá.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
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