Quando vi você a primeira vez, reparei no contraste entre sua beleza e a maquiagem. Naquele dia estava cansado e dormi no samba, um disparate. Depois soube seu nome e lembrei a música do Caymmi. ...”Você já é bonita com o que Deus lhe deu...” Não tenho como me zangar com você nem ficar de mal, e pelo tempo que não lhe vejo, sequer pensar que teu rosto é só meu, mas permanece o encanto daquele olhar com uma certa melancolia boêmia, apesar da água mineral.
Suas sombras debaixo dos cílios brilhavam na luz negra e me remetiam a pintura protetora de alpinistas, um quê de boxeador ou talvez uma pintura de guerra de soldados camuflados. Nada disso escondia as belas olheiras notívagas, um olhar temperado de lúgubre, com um sorriso encantador. Sombras de suas batalhas pessoais, para mim desconhecidas.
Imagino seu horror ao ler tais comparações.
Lembro de uma amiga que recebeu uma esdrúxula cantada na universidade, o cara elogiou as lindas olheiras que ela tinha. Rimos da ambigüidade e veja você, agora elogio olheiras como quem admira uma musa gótica encontrada em uma casa de samba. Paradoxos... Aparentes. Diria-lhe hoje: menos maquiagem (sim, eu vi que você quase não usa). Seu semblante é algo tão doce que não precisa de açúcar, deve ser bebido puro.
Para além dos devaneios, o importante mesmo foi dançar com você e, apesar da minha falta de prática, sentir a maravilhosa tensão de pantera debaixo daquele vestido fino, praticamente inexistente ao tato. A embriaguez poética da única e sutil peça de roupa de baixo. Quando penso na meditação de se ater ao instante e torná-lo eterno, o momento que senti o início da curva de seu quadril e lhe guiei os passos torna-se transcendente.
Grato pela dança.
terça-feira, 15 de julho de 2008
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