domingo, 13 de março de 2011

Meu Ano Novo



Tentei mas não fiz uma retrospectiva de 2010. Era o último dia do ano. 2011 já passa do carnaval. Então recordo: o que foi 2010 para mim?
Virei o ano um tanto amargo. Expectativas frustradas, desencontros, ilusões. Roteiros batidos tantas vezes executados ao longo da vida. Me deixei levar pela indolência dos desterrados, pelo cotidiano transcorrendo entre o meditativo e o melancólico. Mas não por muito tempo.
Conhecia uma moça a tempo,da rede de computadores. Ela veio me encontrar pessoalmente em finais de Janeiro. E minha vida mudou graças a esse encontro. Conversamos muito mais nos meses seguintes e comprei uma passagem em suaves prestações. Após quase 12 anos no Desterro, mais conhecida na mídia como Floripa, mudei de capital. Fui para Porto Velho, Rondônia.
Partida de Curitiba, escala em Cuiabá. Em poucas horas, lá estava eu. Hotel barato, quarto quente com um ventilador velho e sujo. Depois conheci Candeias do Jamari e um surreal hotel de beira de estrada.
Passei frio em PVH na primeira semana na casa da futura noiva, dormindo na rede na área de serviço. E foram as mais baixas temperaturas desde então. Morei em uma quitinete térrea, com exterior de cadeia e banhada pela poeira vermelha da esquina movimentada. Do sul ao norte do país, morando em uma rua de areia ou terra.
Fiz concursos para professor. Não passei em um, tive mais sorte no da prefeitura de PVH. Virei professor do ensino fundamental II, na zona rural, especificamente do Projeto Ribeirinho. No Projeto os professores descem o Rio Madeira e passam quinze dias nas comunidades ribeirinhas dando aula e depois retornam para Porto Velho e passam mais quatorze dias na capital, pois um é para a reunião de pessoal. Entrei nessa rotina em Julho.
Passei os meses seguintes conhecendo uma comunidade do baixo Madeira, a cultura ribeirinha, a simpatia dos ribeirinhos, as belezas da natureza local e os horrores da realidade educacional do município. Meu quarto-sala alagou pelo ralo do banheiro, fui embora. Ensaiei alunas para apresentações de dança, observei de perto os grandes jacarés do Lago Cuniã, acompanhei o campeonato local de futebol e presidi a mesa. Testemunhei o período eleitoral e vi o fundamentalismo cristão mostrar a face rançosa.
Pedi em noivado a moça que me trouxe pra Rondônia. Levei ela para conhecer a comunidade em que trabalhei. Distendi a coluna de tanto carregar bagagem pras localidades. Terminei o ano letivo indo fechar matérias de 2009 na comunidade de Demarcação, sem telefone nem internet, mas com tevê Globo. Tomei muito banho de cuia. Terminei o ano quase saindo do Projeto, mas permaneci. Passei o ano novo com a família e apresentei a noiva. Mostrei a ela a lendária capital do país e artefatos diversos do meu passado. Brindamos ao futuro. Voltamos a Rondônia, marcamos o casamento, o cartório quase atrasa nosso processo, os preparativos se atropelam mas afinal, casamos em pleno carnaval, com direito a samba de bloco pra saudar a entrada da noiva. Meu 2010 se encerra agora e 2011 começa oficialmente após o carnaval, como é tradição da pátria. Mudei. Girei cento e oitenta graus e sacudi a falta de perspectivas. Já era hora.

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