sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

E você, como reiterado contrário, de pijama e mascando chiclete gasto, assombra minha manhã sendo um par agridoce em um romance improvável. Seu olhar de predador permanece aceso, do alto de seu cansaço de seguidas noites em bancos de ônibus, ou de uma jornada proveitosa pelo inconsciente dos homens. Teimosa, se aproxima da beirada da cama e senta como se estivesse contrariada por fazê-lo, seus lábios sustentam uma eterna promessa de sorriso não concretizada. Nosso diálogo simplesmente está ali, sem começo nem fim, apenas ritmo conduzindo uma lânguida e sinistra capoeira, evocada pelo excesso de branco algodão, lençol e moletom. Em nosso aconchego descubro o fator comum entre tempo, gravidade e uma conversa: o beijo. Dentro daquele sólido sinto seu chiclete sem gosto fazendo malabarismo, tentando passar pra minha boca.
Só quando acordo a lembrança de nunca ter dividido goma com outra boca se instala. Assim como jamais, jamais.

Lá, você retorna á penumbra, descendo devagar em um vasto tacho de óleo fervente. Suas roupas deslizaram para ás sombras, como tiras de serpentes voadoras. O cabelo curto espeta a curva do ombro quando seu rosto olha por cima, desaparecendo em silêncio no sibilo monocórdio do azeite imperturbável. Até restar só a superfície de um sussurro homogêneo, imiscível.



Uma manhã com um suspiro dúbio na mesa do café. Existem ironias e existem paradoxos. Mas melodrama nunca deixa de ser popular na tela da vida interior. Principalmente os bem feitos.

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