É noite, as caixas de som zunem, o computador sussurra, a geladeira estremece. Ouço a noite, seus insetos, o som da luz nos postes, o mar ao longe, alguns carros na estrada. Preparo aula, estudo, escrevo. Imagino você chegando, geist über weltgeist.
Sua risada, seus gestos, seu cigarro e uísque, sua pomba-gira auto-imune, Maria Padilha niilista. Sinto você atrás de mim, observando minhas atividades. E você põe a mão no meu ombro, essa mão fantasmal que já esteve tão perto, os dedos, o contraste entre palma e costas, as linhas, o relevo, o tempo de uma dimensão paralela. A áspera maciez de um país imaginário, o frio de seus regatos, o calor de suas fogueiras, a cantiga do vento desbastando as montanhas quando sua mão desliza contra minha pele, seus dedos escavando novos vales envolvem meu pescoço com a lentidão das geleiras. As estações passam enquanto sinto você inclinar-se sobre mim, seu cabelo como uma nebulosa atravessando o sistema solar, seu aroma um vapor de terra, seu calor o sol idealista de uma primavera.
E você me abraça. E demora comigo em silêncio, esquecendo o tempo, finalmente sem pressa. Universos se interceptam e você colapsa um beijo em minha bochecha. Deixo as ondas de choque se dissiparem pelo cosmo do meu crânio e você vai. Vejo-te partir, no rumo de teus sonhos, como a bruma de uma manhã na serra do mar, revigorada e cheia de esperança.
Dança no sol minha melhor vampira...
No ar dançam cinzas, e fico a pensar se todo coração é um origami.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
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